Gripe aviária no RS leva China e União Europeia a suspenderem importações de frango do Brasil e ameaça bilhões em exportações

Gripe aviária no RS leva China e União Europeia a suspenderem importações de frango do Brasil e ameaça bilhões em exportações

A confirmação de casos de gripe aviária no Rio Grande do Sul (RS) colocou o Brasil em estado de alerta sanitário e causou um duro golpe na balança comercial do setor avícola. Como resposta imediata, China e União Europeia (UE) anunciaram a suspensão temporária das importações de frango provenientes da região afetada, medida que já começa a causar impactos significativos na economia do país.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, no início de maio, a detecção de casos da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) em aves silvestres no estado gaúcho. Embora os focos tenham sido localizados em animais não destinados à produção comercial, os países importadores reagiram com rapidez para proteger seus mercados internos. Agora, o Brasil tem 60 dias para apresentar comprovações técnicas e medidas de contenção que assegurem o controle do vírus e evitem um possível embargo mais amplo.

Brasil tem 60 dias para comprovar segurança sanitária

O prazo de 60 dias dado por autoridades sanitárias internacionais é crucial para que o Brasil mantenha seu status de país livre de gripe aviária em plantéis comerciais. Nesse período, o governo brasileiro deverá apresentar um relatório técnico detalhado com ações de vigilância, contenção e prevenção da disseminação da doença.

Caso as medidas sejam consideradas insuficientes, a suspensão pontual — atualmente restrita ao RS — pode se estender a outras regiões ou até mesmo culminar na paralisação total das exportações de frango para mercados estratégicos. O governo já mobilizou equipes da Defesa Agropecuária e reforçou protocolos de biossegurança em granjas comerciais em todo o país.

O peso do mercado consumidor chinês e europeu para o frango brasileiro

A China e a União Europeia estão entre os maiores consumidores do frango brasileiro. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), só em 2023, a China importou mais de 500 mil toneladas de carne de frango do Brasil, gerando uma receita superior a US$ 1,1 bilhão. Já a União Europeia, com destaque para países como Holanda, Alemanha e Espanha, foi responsável pela compra de aproximadamente 200 mil toneladas, movimentando mais de US$ 450 milhões.

Esses dois mercados, juntos, representam cerca de 25% das exportações brasileiras de carne de frango. A suspensão, ainda que temporária e regionalizada, acende um alerta para a dependência econômica do Brasil em relação a esses blocos. O setor avícola nacional, que se orgulha de sua sanidade e rastreabilidade, enfrenta agora o desafio de manter a confiança de seus parceiros internacionais.

Impacto financeiro direto nas exportações brasileiras

A interrupção nas compras por parte da China e da União Europeia já tem causado oscilações nos preços internacionais da carne de frango e preocupações no setor produtivo brasileiro. Analistas do mercado agroexportador estimam que, se a suspensão perdurar além dos 60 dias, o Brasil poderá perder cerca de US$ 300 milhões em receitas só no segundo trimestre de 2025.

Além da perda direta de faturamento, há efeitos colaterais relevantes como a queda nos preços internos do frango, aumento da oferta no mercado doméstico e possível retração nos investimentos em produção e abate. Pequenos e médios produtores no Rio Grande do Sul relatam cancelamentos de encomendas, incertezas quanto à venda futura e dificuldades logísticas para redirecionar a produção.

Setor reage com medidas emergenciais e aposta na transparência

A ABPA e outras entidades do agronegócio têm mantido contato constante com o governo federal e com os principais países importadores para fornecer dados, esclarecer dúvidas e mostrar que o Brasil possui uma das cadeias produtivas mais monitoradas do mundo.

A aposta do setor é na transparência e na confiança conquistada ao longo de décadas. A diferenciação entre casos em aves silvestres e aves comerciais é um ponto-chave, e o Brasil espera que a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e os parceiros comerciais reconheçam esse fator para evitar penalizações mais severas.

Conclusão

O surgimento da gripe aviária no Rio Grande do Sul representa mais do que uma ameaça sanitária: é um risco econômico de grandes proporções para o Brasil, líder mundial na exportação de carne de frango. A suspensão das importações por China e União Europeia revela a fragilidade de mercados dependentes da confiança sanitária e da eficiência na resposta a crises.

Nos próximos dois meses, o país terá o desafio de preservar sua imagem de excelência sanitária e proteger bilhões de dólares em exportações. O desfecho dessa crise pode redefinir não só o rumo do setor avícola, mas também as estratégias de diversificação de mercados e gestão de riscos no agronegócio brasileiro.

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